Ir ao médico e realizar exames de rotina ainda representa um desafio significativo para muitos homens no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, três em cada dez homens não têm o hábito de buscar atendimento médico, e mais da metade só procura ajuda quando os sintomas estão avançados. Essa resistência está enraizada em barreiras culturais e emocionais, onde o autocuidado é frequentemente visto como sinal de fraqueza. Como consequência, os homens vivem, em média, sete anos a menos que as mulheres, morrendo mais por doenças evitáveis e chegando aos serviços de saúde com quadros clínicos graves. O urologista Wagner Kono, especialista em cirurgia robótica pelo Hospital Israelita Albert Einstein, explica que essa atitude decorre de um modelo de masculinidade que prioriza a força e o silêncio, fazendo com que muitos evitem admitir dor ou vulnerabilidade.
O impacto dessa lógica é evidente na prevenção de doenças como o câncer de próstata, o segundo mais comum entre homens brasileiros, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) indicam mais de 70 mil novos diagnósticos anuais e cerca de 16 mil mortes. Kono alerta que a doença é geralmente silenciosa, e esperar por sintomas pode ser fatal. A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) recomenda rastreamento anual a partir dos 50 anos, com exame de PSA e toque retal, iniciando aos 45 para aqueles com histórico familiar, obesidade ou ascendência negra. No entanto, tabus como vergonha, medo do diagnóstico ou falta de tempo perpetuam a negligência, com muitos só buscando ajuda quando a dor supera o orgulho.
Especialistas defendem a desconstrução desses conceitos para promover mudanças, ensinando que o autocuidado é um ato de responsabilidade e amor-próprio. Kono enfatiza que o homem que se cuida é mais consciente, beneficiando não só a si mesmo, mas também seus entes queridos. Em novembro, campanhas destacam a saúde masculina, e o Correio Braziliense promoverá o CB.Debate Novembro Azul: a saúde do homem em foco, na quinta-feira (6/11), a partir das 14h, reunindo especialistas para discutir prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer de próstata.